terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Nova Scotia Robots

Passo doze horas na fábrica. Os turnos foram extintos e o horário laboral passou a ser fixo: doze horas. Para não perdermos o emprego, os sindicatos assinaram a proposta da direcção que incluía o aumento da jornada em quatro horas diárias. Uma situação que se pretende temporária. As doze horas não são na totalidade passadas a trabalhar, provavelmente nem um quarto do tempo. Mas temos que manter-nos disponíveis para o caso dos clientes enviarem pedidos. Muitas vezes são os fornecedores que demoram as entregas de material. É desmotivador quando fazemos tudo certo e são os outros que falham.
Volto a casa destroçado. Não é precisamente pelo trabalho realizado, que está reduzido ao mínimo, mas pelo facto das horas serem passadas em contínua espera, na cantina, à porta da fábrica, nos corredores, nas oficinas, e não usamos máscara porque o pó está assente e não anda no ar. Mas respiramos o mesmo ar viciado. Em conversas de circunstância. Sempre sem novidade. Um tempo contrafeito.
Chego a casa rebentado. A postura em que me deixo cair na cadeira é a postura em que fico até ao dia seguinte, como um molde de barro que alguém abandonou porque já não encontrou emenda, a manipulação esteve errada desde o princípio, fico sentado e durante horas nem considero levantar-me para fechar a janela. Fico ali sentado, encolhido, a gelar e a imaginar um dia sem tempos de espera. Um dia que não seja reactivo. Acordo noite dentro e aguardo que o sol nasça. Desejo que seja  esse o dia do regresso à rotina anterior. Um dia inteiro na linha de montagem, com as pausas para limpar o suor, um dia bem passado, comigo a fazer novamente parte de uma máquina oleada que junta peças vezes sem conta e nunca perde a concentração.