segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Memória de uma mulher feliz

Uma mulher está numa avenida larga e rectilínea. Com pouco movimento por ser insuportável o calor do Sul. A avenida pode ser em vários lugares do Sul, embora não haja labirintos de ruelas, nem largos mercantis, nem recordações de multidão. Na sombra estreita de um sol alto, a mulher está encostada a uma parede. Vai respondendo que não.

Uma e outra vez rejeita os homens que a interpelam. Nega o negócio.  Porque saiu de casa? Porque faz o que deve fazer. Preza a rotina que manteve durante anos. Mas não vai voltar a dizer que sim, decide. Voltará a ter imaginação. Hoje, como habitualmente, cumpre as horas costumeiras mas recusa todas as vezes; ela é muito cobiçada pelos homens e assisto uma recusa sem fim. Um não que soa extravagante. E com cada negação fica cada vez mais feliz. Dizer não fica-lhe bem. Também a mim apenas me cumprimenta.

É provável que a mulher continue ali o resto da tarde. E sem modo de encaminhar a decisão que tomou, pode estar simplesmente à espera de se dissolver em água.