terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ritmo

Quando Roberto Bolaño respondeu à editora da Playboy mexicana que mesmo nos piores momentos, ou nas piores borracheiras, nunca perdeu uma certa de noção do ritmo pareceu-me logo uma excelente resposta embora, como me acontece tantas vezes, não tenha entendido completamente porquê.
Mas ontem quando estava a fazer elíptica e via o meu reflexo na janela ainda não embaciada do ginásio frente ao porto de A Coruña, consegui perceber perfeitamente a necessidade do ritmo constante, independente das circunstâncias. Não é uma questão física. Ritmo em vez de exagero, pressa, lentidão, desperdício de tempo, contra o deslocado. Uma interpretação correcta do ritmo permite saber onde se está posicionado. Não depende do movimento ser ou não conhecido. E sobretudo não se negligencia certos aspectos que andando terra adentro se podem desprezar. A recusa da concessão e do silêncio que esconde o vazio. E ritmo não é coerência. A noção do ritmo é o que permite, aliás, não ser coerente, pelo menos considerando o uso geral que se faz do conceito sobrevalorizado. É por isso que convém ter uma noção adequada do ritmo, ou da fluidez, uma fluidez constante, a cadência da caminhada longa. Esse ritmo ideal que nunca consigo manter.