domingo, 12 de dezembro de 2010

Casaco verde

Passei a detestar os sábados à noite. Venho a casa e esforço-me por voltar a sair. Não me dispo, não me descalço, janto em pé, acendo as luzes todas para criar uma impressão de actividade, mantenho as chaves nos bolsos, vejo-me ao espelho, tento pentear-me, mando roupa para cima da cama, saco uma cerveja do frigorífico e digo-me que é só a primeira da noite. E desisto. Não consigo iludir a tua falta. Continuar a aprovar todos os nomes que me chamas enquanto ris, a tua bravura delicada, reprovares-me quando não me controlo, devolveres-me à terra e não permitires que caminhe sete palmos acima do chão. As pessoas estão todas por aí, indistintas, sair para quê? Tu não estás. Com o teu casaco verde. A fazer-me notar a carência de colorido que tem a minha vida. Ai, como está obsoleto o amor platónico.