terça-feira, 8 de setembro de 2009

Paixão por silenciar

Nunca se chateia com ninguém. Já se chatearam com ele. Mas suspeita que será esmagador no caso de contenda, só pelo estilo com que espera encarar a peleja, só pela imagem agradável com que se vê. Gosta de partir de posições incómodas. Mostra uma capacidade mínima para se ofender. Como escrevia J.M.Cotzee nos seus ensaios sobre censura, a manutenção de dúvidas sobre si próprio é um bom princípio porque deixa pouco espaço para «se ofender» e, como consequência do poder delegado, desatar a censurar, ou a criar «ambientes» favoráveis, que os tempos obrigam a maior habilidade. A dúvida confere liberdade. Não tem paixão nenhuma por silenciar. Mesmo que lhe falem de modo exagerado, especulativo, até presumido.
Ainda está para nascer esse alguém que não tenha paixão nenhuma por silenciar e que, por vias mais idóneas, se consiga manter no poder. Sócrates, por exemplo acabado, tem uma grande paixão.

2 comentários:

  1. Bem, a modo como acaba este texto é sublime.
    (e eu, que "não voto Sócrates")

    ResponderEliminar
  2. Mary, e é esse mesmo o propósito. Não ir em «maiorias absolutas».

    ResponderEliminar