terça-feira, 16 de junho de 2009

Belgais

Não sei o que se passou com o «sonho» de Maria João Pires para Belgais. Provavelmente a própria sairá mal na fotografia. Obviamente seria necessário uma gestão escrupulosa dos dinheiros públicos. As insinuações do costume aparecem mais depressa porque se trata de uma artista – ainda por cima conhecida pelo mau feitio. Não sei se foi o ministério da cultura que deixou morrer a ideia, talvez os investimentos tenham sido uma gota de água se comparados com outros bastante menos «nobres». Joaquim Morão, presidente da câmara de Castelo Branco, sempre apoiou o projecto e algo se passou para ter deixado de respaldar a pianista. Embora seja avisado não pôr as mãos no fogo por qualquer autarca que, como sabemos, tem sempre outras prioridades que passam por «mudar a cara», ou seja, descaracterizar as cidades que gerem. Mas a culpa não é deles, que apenas copiam o modelo de desenvolvimento vigente na «grande urbe culta». Um eleitor de Castelo Branco tem o direito ao mesmo tipo de desenvolvimento «moderno» que um eleitor de Lisboa.

Quando fui à quinta de Belgais, propriedade da pianista, não vi absolutamente nada de faraónico: três ou quatro casas de pedra, árvores, e o rio Ponsul como vizinho. Paz e beleza. O «sonho» era simples: passava por uma escola, formação, talvez captação de novos públicos, ensinar música às crianças das localidades próximas, principalmente na Aldeia da Mata, a poucos quilómetros do lugar de Belgais, um ponto longínquo na raia. E passava por uma programação cultural que incluía a visita de músicos a Belgais. Depois do fecho de algumas escolas das redondezas Belgais propunha-se reunir os alunos na escola da Mata, que agora também fechará. Saliente-se que as crianças não seriam propriamente ET’s.

O projecto Belgais não se enquadrava na «cultura alternativa» de Lisboa fantasiada por algum idiota cheio de «ideias» e a pedinchar «apoios» ao Estado para escrever um livro ou fazer mais um filme paternalista para público de «bons sentimentos» sobre os bairros da Amadora. Maria João Pires não é uma «agitadora cultural». Provavelmente estamos perante sucessivos assobiadores para o lado. A história está toda mal contada e termino por não perceber patavina. Talvez o costume: lamentar a merda de país que temos.

2 comentários:

  1. Este postal foi hoje citado na secção de blogues do Público. Parabéns pela referência!

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  2. Como deves imaginar, não fazia ideia. Por isso agradeço-te a informação e a simpatia! Um abraço.

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