quarta-feira, 17 de junho de 2009

No país de Kiarostami (3)

Aquando da invasão do Iraque uma maioria de pessoas «conscienciosas» diziam que não, que não era assim que se fazia, que era preciso a ratificação desse buraco negro que é a ONU, ou que a «revolução» teria que vir de dentro. Tudo bem. Ora, o que se passa neste momento no Irão é exactamente aquilo se poderia passar no Iraque, sem a intervenção dos EUA, só que daqui a 30 anos (para escrever um número). O que se passa no Irão, mesmo que a curto prazo não resulte em grandes alterações, é a vontade de mudança em estado «puro» e que por isso tem mais possibilidade de resultar através do tempo e até, para quem goste de imitações, «servir de exemplo»: a novas gerações que pedem mais liberdade. Antes de se entrar nos artigos da BBC, que lapidam a mão nervosa o passado obscuro do camarada Mousavi, é preciso lembrar o Iraque antes da guerra e a bem sucedida terraplanagem de qualquer oposição. Mousavi, mesmo que encimado pelos líderes religiosos, é neste momento o único gajo disponível no contexto iraniano a personificar «um novo poder», ou pelo menos, a ideia de descontentamento expressa nas ruas. É para já, vamos dizer assim, estúpida, a preocupação com o passado negro, com os «telhados de vidro» (expressão horrível), do camarada Mousavi. É tempo perdido para os jovens iranianos. Mas resume o conforto europeu de quem está bem instalado, na sua «democracia de bolha», embora aborrecido com o dia de amanhã.

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