Aquando da invasão do Iraque uma maioria de pessoas «conscienciosas» diziam que não, que não era assim que se fazia, que era preciso a ratificação desse buraco negro que é a ONU, ou que a «revolução» teria que vir de dentro. Tudo bem. Ora, o que se passa neste momento no Irão é exactamente aquilo se poderia passar no Iraque, sem a intervenção dos EUA, só que daqui a 30 anos (para escrever um número). O que se passa no Irão, mesmo que a curto prazo não resulte em grandes alterações, é a vontade de mudança em estado «puro» e que por isso tem mais possibilidade de resultar através do tempo e até, para quem goste de imitações, «servir de exemplo»: a novas gerações que pedem mais liberdade. Antes de se entrar nos artigos da BBC, que lapidam a mão nervosa o passado obscuro do camarada Mousavi, é preciso lembrar o Iraque antes da guerra e a bem sucedida terraplanagem de qualquer oposição. Mousavi, mesmo que encimado pelos líderes religiosos, é neste momento o único gajo disponível no contexto iraniano a personificar «um novo poder», ou pelo menos, a ideia de descontentamento expressa nas ruas. É para já, vamos dizer assim, estúpida, a preocupação com o passado negro, com os «telhados de vidro» (expressão horrível), do camarada Mousavi. É tempo perdido para os jovens iranianos. Mas resume o conforto europeu de quem está bem instalado, na sua «democracia de bolha», embora aborrecido com o dia de amanhã.
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