terça-feira, 17 de março de 2009

É certo que também me sinto visado em algumas das faltas de juízo que diagnostica o texto anterior. No entanto mais que «enfiar o barrete» o texto é importante como reflexão e algum ponto de ordem. A análise coloca em perspectiva as inúmeras referências Pop que primeiro são promovidas sem critério e depois tomadas como injecção de identidade. Todos esses nomes entronizados «mitos», outros quase beatificados, vão fazendo as vezes de uma tentativa mais completa que em vez de excluir vai arriscar o exercício homérico de englobar para depois separar. A postura acrítica e acéfala que defende tudo o que vagamente está relacionado com uma vivência fortemente «grupal», ignorando até com certa inocência aquilo que «não me pertence». É uma postura nefasta porque funciona com base num mecanismo que terraplena toda a diferença aparente, sem que uma «curiosidade» mais avisada consiga assomar. Estas críticas são as mais difíceis porque são feitas com base nas semelhanças e na identificação de um mesmo substrato. Forçosamente dispara em várias direcções e caminha sobre gelo. Nas várias (in)sensibilidades que se julgam superiores mutuamente Jorge Bustos torna evidente a mesma essência pouco «culta» e apenas epidérmica, fragmentária e aparente. Não encontra substância que acompanhe o estilo. Bustos realça também a infantilização de alguns realizadores de cinema que se diminuem em prol de um público que fala esta linguagem parcial. Paradoxalmente é dentro da gritante falta de plenitude que alguém vai julgar que está mais próximo do «belo» – por abraçar um só estilo e não se dar conta da enorme pobreza que isso representa.

Por último Jorge Bustos chama «melancólica» à sua posição. Ora isto pode confundir muita gente. A melancolia não é um estado solitário que fecha a boca precisamente por não ter que revelar que para além do «maneirismo» não tem porra nenhuma para dizer. A estupidez e confusão vigentes residem no facto da melancolia ser agora uma forma de fazer amigos, quando na realidade, a melancolia é justamente o estado a que se chega pela dificuldade em fazer amigos, pela falta de identificação, no limite, pela «recusa pura».

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