terça-feira, 17 de março de 2009

Transições

Encontrei João César Monteiro (literalmente). Queria um filme português e As Bodas de Deus estava em cartaz. Foi através de César Monteiro que descobri Robert Walser. Nunca mais o larguei. Foi um ver se te avias. Um escritor primordial. Mas não é forçoso viver como se escreve. Recuperei Kafka e Musil e dei-me conta como podiam ser lidos à luz de Walser. Avançamos no tempo. Chegaram com espavento vários livros seguidos de Vila-Matas e um género paralelo impôs-se. Outro retorno a Walser. Ele próprio a esclarecer a ligação remota com Melville (Walser como um Bartleby). Falta investigar alguns dos inúmeros autores abordados em História Abreviada da Literatura Portátil. Vila-Matas, comigo já em Espanha, ramificou-se em Fleur Jaeggy, uma leal e circunspecta discípula de Walser e, actualmente, em Sergio Pitol. O escritor mexicano escreveu os primeiros contos numas férias de verão quando, depois de um desgosto amoroso, se propunha odiar o mundo e só passear à beira dos penhascos para ver se resvalava de uma vez. Foi mudando de ideias. Adormecia deitado na erva.

É este o percurso dos autores da convalescença, do estudo incessante do pior, das «regiões inferiores», da recusa pura.

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