terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Missão

Tento sempre comprar calças com os bolsos verticalmente dispostos. É uma pequena homenagem que faço ao meu avô paterno. Ele usava calças com esse corte e andava sempre com as mãos, as duas mãos, metidas dentro dos bolsos. E eu faço exactamente o mesmo. E vejo-me nos espelhos que aparecem e sinto-me bem e sou verdadeiramente feliz nesses momentos. O meu casaco, como o casaco do meu avô paterno, apresenta-se com as abas meio viradas para trás, pela tracção das mãos enfiadas nos bolsos. Posso caminhar assim várias horas e imagino que sou um velho, completamente desocupado e com a minha missão cumprida, não disponível para nenhuma tarefa para além da última: a fricção frequente da pele manápula com as costuras das algibeiras em cujos fundos não cabem mais que lenços ranhosos.

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