quinta-feira, 2 de junho de 2011

Aperfeiçoamento do panorama disponível

A água corria turva. Choveu pouco durante o Inverno; a Primavera continuava seca. Combinaram passar na barragem para testemunhar que a proximidade do Verão colocava em risco o abastecimento de água potável. Fariam o levantamento de todas as fontes disponíveis, podiam transportar no porta-bagagem garrafões vazios e logo enchê-los da água que corria das bicas largas das fontes. Abria a mão em concha e salpicava-a, ela não esperava outra coisa, os bons apaixonados já sabem com o que contam e vivem duas vezes a felicidade, porque primeiro a imaginaram em todos os pormenores.

Lamentava não a ter conhecido antes; o Inverno havia de ser menos rigoroso.

Depois da barragem, continuavam até à esplanada mais próxima, onde o mar fizesse gala da presença dos amigos; levavam livros e só por vício. A história era escrita por eles. Olhavam um para o outro, escutavam-se; e tentavam perceber quem era o menos envergonhado e quem conseguia estar mais tempo quieto, sem mexer nos mínimos objectos ao alcance. Bloqueavam constantemente e intercalavam episódios com elogios mútuos; lembravam-se de façanhas passadas. Entreolhavam-se e depositavam as esperanças no mar, para serem poéticos. Mas sabiam que o horizonte não interessava porque estava longe, intangível. E eles cansados da distância. Fariam planos, alguns podiam concretizar, mas a maioria não passavam daquele tipo de projecto que as pessoas fazem quando estão felizes e ao lado de quem gostam. Ficavam até tarde; a norte o dia estende-se para além do sono dos justos, ela começava a ter frio e ele rodeava-a com o braço. E depois teria menos frio e juntos teriam calor.

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