quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Medalha de ouro

Pode ser difícil de entender: quem julga que Espanha é muito parecida com Portugal está redondamente enganado, mas quem pensa que Portugal está muito longe de Espanha equivoca-se na mesma proporção. No entanto, o espanhol médio é mais atento que o português médio e consegue colocar maior distância crítica perante a Opinião que, tal como em Portugal, também é diligentemente veiculada numa lógica que discute a preto e branco. Pode ser uma mera questão de número: no meio de 40 milhões de pessoas sempre há mais facilidade de encontrar ideias diferentes ou, pelo menos, mais independência.

Obviamente, existem muitos espanhóis que não se identificam com o «progressismo» de Zapatero. Isso não significa forçosamente que sejam conservadores. Antes, identificam dogmatismos divididos a meio e partilhados em partes iguais. Seja por sectores mais conservadores, com alguma igreja à mistura, seja pelos apoiantes do PSOE, com muito marketing, publicidade e verniz. Falando da juventude, esta divisão em lados opostos afasta qualquer espécie de pensamento crítico posto que defende desde logo uma via única que se movimenta à volta do «anti», do «contra» ou do «a favor». Em Portugal, o meio é pequeno, a Opinião é bem mais demolidora e, repito, o meio é pequeno e controlável, e a Opinião consegue ser bastante mais sistemática. Não falo sequer em manipulação. Refiro-me só a uma espécie de curiosidade natural: ninguém arrisca pular do conforto do ninho.

A juventude mesmo analfabeta, à rasca, e com as prioridades trocadas persegue uma ideia de modernismo que é vaga mas «necessária». Algumas «causas» marteladas até à exaustão não tiveram outro propósito que facilitar o voto no PS. Ainda assim procuro que a capacidade para me espantar continue intacta. E espanto-me (pela positiva) com a publicação da entrevista do insuspeito Rui Lagartinho a Álvaro Pombo (que apesar de fazer todas as perguntas certas introduz o escritor cantábrico de uma forma completamente superficial). E não posso deixar de considerar espectacular (a omissão como parte integrante do espectáculo) que uma entrevista como a de Álvaro Pombo ao Ípsilon, «o» suplemento cultural por excelência, não se inscreva em sítio nenhum e seja «olimpicamente ignorada». Ou seja: merecem uma medalha de ouro.




Álvaro Pombo, junto com Vila-Matas e Carmen Laforet, que conseguiu manter a actualidade sobretudo com a novela «Nada», continua a ser um dos escritores mais interessantes (e imparciais) do panorama literário espanhol. A matéria da entrevista é a publicação do livro “Contra-Natura”, que versa sobre a «boa e a má» vivência da homossexualidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário