segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nada para recordar

Desceu pelas escadas de emergência. Depois correu pelas ruas, sem destino, agitada por ter cometido a primeira falta. Nem todos ficariam ao corrente. Mesmo assim já não eram só os conhecidos – ou a sua vida. Não tinha a real noção da amplitude da falha. Seria uma negligência menor ou um erro com proporções? Apenas tinha a certeza dos vestígios que havia deixado: esperava que os soubessem situar na desordem do espírito. Preferia uma censura moral, a vergonha pessoal e logo o esquecimento. Acalmou-se. Procurou perceber o ponto onde estava e qual o caminho mais rápido para casa. Quando chegou, depois de despida e deitada no sofá, deu-se conta de que nada de grave havia acontecido naquela tarde. Nada para recordar. Apenas uma quebra passageira. Uma curta mudança de ritmo. Uma pedra na engrenagem sem força para fazer deter o mecanismo. Um soluço no automatismo e a seguir o pó.

2 comentários:

  1. Bem... nunca ninguém me fez uma "dedicatória" assim com esta categoria! Nem sei que dizer.. vou guardar o teu texto aqui junto das minhas coisas. Vai ficar para recordação :)

    ResponderEliminar
  2. Não penses mais nisso. Fica o essencial: jumentos sim, «rebanhos» não. :)

    ResponderEliminar