domingo, 5 de julho de 2009

De um manual que li (enquanto dormia)

«…atribuía o facto aos filmes em que as mulheres falavam só com os lábios, conseguindo dissociar a voz de qualquer origem interior, mas fazendo destacar, precisamente, os lábios e bem assim, outras partes do corpo. É possível que isto não se perceba. Mas pensar nos altifalantes das estações de comboios talvez ajude. Ouve-se uma voz, útil, mas condenada a um número limitado de informações efémeras, e ademais, um discurso riscado, lido do papel, ou mesmo gravado e programado para passar a determinadas horas. Quando se aproxima tal comboio, debitas isto, quando se aproxima outro, debitas aquilo. Um para norte e outro para sul. Há composições que seguem viagem sem parar. Por motivos de segurança também devem ser narradas. Renova a informação com maior frequência quando existirem atrasos – somos uma companhia desenvolvida. A pessoa que está todo o dia programada vai ficar a saber de cor o que tem que fazer e, a menos que esteja preocupada com algum acontecimento pessoal, vai fazê-lo cada vez melhor. À noite, quando se seguir uma fase do ciclo que, surpresa, não é previsível como as outras conseguirá captar a atenção para o que quiser. Os lábios estão intimamente relacionados com as pernas…»

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