quinta-feira, 16 de julho de 2009

Cortar à faca

O filho do carniceiro é director nacional de recrutamento e formação. Ele ajudava o pai aos Sábados de manhã. É um individualista. Diz, com naturalidade, que ainda está a aprender a trabalhar em equipa. Não percebe os métodos que administram «auto-estima», como se pudesse ser uma injecção intravenosa, e prefere o realismo ao optimismo. Apesar dos 47 anos às vezes diz que tem medo, outras vezes dores de estômago. Não sabe o que é a «neutralidade benevolente», a postura mais acertada para o fingimento não ser ostensivo.

Almoçamos. O segundo prato é paleta de cerdo com batatas assadas (e muito molho). O filho do carniceiro pega na faca e no garfo e corta o primeiro pedaço de carne. Depois deve abater-se alguma lembrança. Abandona a faca (suja de molho), perto do meu copo, e come o resto da refeição só com o garfo. Não me dou conta de como consegue comer só com o garfo mas é o primeiro a acabar. A posição que ocupa obriga-o a fazer mais cedências do que aquelas que desejaria. Conta-me o quanto o pai se equivocava (com excessiva ilusão e esperança) quando lhe recordava sempre o mesmo conselho: «se estiveres atento não terás nunca que viajar no vagão do gado bravo».

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