sexta-feira, 5 de junho de 2009

Música para camaleões

Norman Mailer tinha sérias reservas e isso não o deixava menos eloquente. A «novela real», segundo ele, é o falhanço da imaginação. Depois o próprio Mailer escrevia «novelas reais», segundo Truman Capote, mas não as descrevia como tal, não concedia, não dava o braço a torcer. Como é possível alguém confiar na imaginação, de onde vem o «abundante imaginário próprio»? A novela ficcional pode, nesse caso, ser o fracasso da vida (ou do risco, ou da observação) e corre o risco de ser inverosímil. Na leitura de um livro aprovo todo e qualquer assomo biográfico, que é a explicação do costume quando a obra está «verde», principalmente quando se reporta à primeira idade de um autor. Aprovo todo e qualquer episódio onde se perca, por algum imperativo, os fios condutores do facto e do «fantástico». Como no primeiro livro de Peter Handke. Como um sono em que sonhamos ouvir vozes e, no entanto, está alguém a conversar na sala ao lado. A distorção pode ser a queda infalível mas a novela ficcional corre mesmo o risco da leveza, se o autor se limitar a inventar vidas novas ou personagens facilmente reconhecíveis, isto é, banais. Estas e outras hipóteses para evidenciar o óbvio: misturar real e ficção, facto e invenção, é o melhor que se pode fazer para alguém se aproximar da verdade, para representar o que existe.

3 comentários:

  1. já estás a estragar tudo.

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  2. Adivinho que contigo Capote não vá bem. Mas pensas que não vi a referência ao Boris Vian? Já andas a falhar aos teus clássicos!

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  3. O mestre Bloom recomenda, o Pedro lê.

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