sexta-feira, 12 de junho de 2009

Em busca dos posts perdidos (7)

Vou à janela da mansarda e cheira a brasas de carvão. Mais pela hora do jantar e haverá sardinha assada. Lá em baixo estão as velhas de sempre, sentadas nas cadeiras e bancos de sempre. As ruas estreitas servem de porta-estandarte: prendem entre prédios muitas fitas em fole e de cores berrantes. Também há balões, aventais, cerveja, camisolas do slb e, este ano, bandeiras nacionais. As aparelhagens são montadas. Alguém canta «não és homem para mim». Por momentos, acredito. Mas quando chego à janela, invariavelmente aberta para que possa ver o que se passa no chão, não é nada desta vida popular que se destaca. O cruzeiro do presidente do Chelsea está amarrado na gare marítima de Santa Apolónia. O cavalheiro vem assistir ao EURO. Prefere o seu cruzeiro a um hotel. É desta forma que a vista do Tejo tem durante uns dias um apontamento de «charme». Ainda da janela pode-se ver-se o Cristo Rei iluminado por holofotes vermelhos e verdes. Um outro patrocinador do futebol e da tal «auto-estima». Nada de novo. Afinal o mesmo «monumento» já serviu para publicidade bem menos crente. Um cartaz de um gelado. Imune às glórias de Lisboa vai seguindo o Tejo. E as marchas que as ganhe Alfama. Desejos simples e um tanto esquisitos de quem vive «no bairro». Pois vinde ao bairro no arraial, vinde, e voltai para as urbanizações assépticas e sisudas.

(2004, e quem diria, com alguma saudade
)

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