quarta-feira, 3 de junho de 2009

Em busca dos posts perdidos (6)

Já não tenho vista pela janela alta. Deixei de olhar o percurso final do rio; conheço bem as águas passadas até culminar na foz larga. O deleite do início faz falar depressa, peço desculpa. Pela vida dentro concentrei juízos e enganos. «Isto de amar o mundo», dizia e ria-me para dentro. Deixá-lo ser o meu balde de lego adulto. Não percebias como me empolgava com o belo e com o feio. Vias ao longe. Procurava englobar-te na circularidade imparável tentando construir e arruinar verdade e aparência. Solucionar desejo com imaginação... Divertir-me com a passagem indiscreta do espectáculo. Lançar pontes para territórios inóspitos. Se não desse para fazer algo com estas expressões. Tivesse sabido eu reduzi-las e limpá-las até o equilíbrio se deter no essencial que eras «tu». Pisava uma terra desconhecida e matizava o espaço de acordo com o meu arco-íris. Nunca fujo das cores que se impõem, mesmo que resultem berrantes. Se ocupava demasiado o lugar. O meu reino é neste mundo. Não pretendo encontrar outro. O que tinha de meu oferecia-te brutal, sem papel de embrulho. A preguiça da manhã contrastava com a alegria saciada do final do dia. As múltiplas fontes onde me fartava eram o que reunia para te dar de gesto amplo; como o diabo fez com Jesus, colocando-o no pico de uma montanha e mostrando-lhe o que andava a perder. Dei-te todo o meu mundo. Tu só pedias o meu amor. Que era a única coisinha que eu não tinha.

(2004, adaptado)

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