sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O cão coxo

Estava na areia a ler. Fui interrompido com os gritos de um homem, já passado da meia idade, que agitando o casaco chamava uma mulher e apontava para a beira-mar. Estava um cão na água. Já tinha reparado no cão: quando o homem lançava uma espécie de roda o animal procurava um ímpeto, notava-se o impulso, mas não conseguia avançar mais do que com a lentidão das pernas pesadas e coxas. Acabava por ser o dono quem corria atrás da roda. Uma das ondas deve ter subido demasiado o areal. O cão enrolava-se nelas e acabou por render-se ao seu contínuo vai e vem, sem forças e aos tombos, como um bocado de madeira oca. Antes que eu próprio me aprestasse ao salvamento o homem correu para a beira-mar.
Hesitou uns momentos esperando que fosse outra onda a realizar a tarefa de devolver o cão. Podia ser uma expectativa justa.
Finalmente decidiu entrar na água. Puxou pesadamente o cão pela coleira. O animal logo se sacudiu com aquele vigor que borrifa todos quantos estejam à volta. O homem colocou as calças molhadas ao sol, numa rocha, e ficou a olhar a baía com o cão ofegante e sentado sobre as patas. Podemos perceber ou não a hesitação do homem. Acho que o cão não se apercebeu.

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