quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Quatro noites com Anna

O polaco Jerzy Skolimowski realizou um bom filme sobre algo do mais imperfeito e humano que há: a obsessão. Tenta legitimá-la, ou desculpá-la, com uma grande dose de limite. O protagonista vive num pequeno povo, trabalha num crematório, o ambiente em que se move é escuro, solitário, gelado, «injusto» se quisermos uma definição mais social. A obsessão nem precisa de legitimação mas o realizador talvez quisesse um filme «legível», isto é, um filme com dados imediatamente disponíveis para os críticos. Como já escrevi algures um homem deve ser fiel às suas obsessões e não é pela absoluta normalidade que Anna deixará de merecer empenho. Leon é dedicado da maneira que pode: enquanto a enfermeira dorme sob o efeito de soporíferos cuidadosamente preparados por ele. Pinta-lhe as unhas (lindíssimo), arranja-lhe o relógio de cuco, dança ao lado da cama, observa-a, compra-lhe um anel, "dorme" com ela, e o filme podia versar apenas sobre estas manifestações de devoção não consentida que estava bem. Quase não saberia se o filme tratava da obsessão ou da devoção extrema. É a violação a que Leon assiste paralisado o que separa as duas e aponta o filme na primeira.

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