domingo, 14 de dezembro de 2008

Madeira de buxo (2)

"(…) a dona Onofre enfada-se sempre muito, ler o Padre Coloma não reconforta o bastante, e o adultério já não a distrai como no princípio, o navio mercante Diana Maria transportava duas mil toneladas de sucata do Reino Unido para Ferrol e encalhou na baía de La Coruña, toda a tripulação pôde ser salva, dona Onofre encontrou-se no hall do Hotel Atlântico com alguém do Diana Maria, conheceram-se então e as coisas foram muito depressa e passaram toda a tarde na cama, (…) não é possível que estes amores de um momento para o outro estejam previstos no Libro de los Designios, dona Onofre colocou um dia a questão a don Sebastián mas este sorriu e ficou em silêncio, tu não te metas para aí aprofundar as coisas e aceita-as como elas são ou como chegam, que é a mesma coisa, se dona Onofre tivesse estudos talvez se tivesse destacado, o pesqueiro Cabo Noval afundou-se na ria de Muros, sem vítimas, não se pode ser um fanfarrão, Manueliño de Xesusa tinha a mania que a sua filha era uma rapariga muito decente, a minha Xonxa não há quem a leve, quando a Xonxa apareceu prenha Manueliño de Xesusa dizia, não foi o noivo que a levou, quem a levou foi a vontade, não se pode ser convencido, o pesqueiro Segundo Costa afundou-se nos baixios da Lobeira em frente a Corcubión, as amarras e os cabos dos helicópteros nem sempre funcionam, para além dos marinheiros do Rey Alvarez II também morreu por uma causa idêntica um tripulante do iate alemão Baltic Mile que naufragou a oeste de La Coruña, caiu ao mar quando já estava no ar, na ponta do Canto Area pode tomar-se banho com um certo à-vontade e sozinho porque as pedras defendem quem por lá vai, quando o mar bate mais forte nem vale a pena aproximarmos mas quando o mar está manso sabe sempre bem dar uns mergulhos, na ponta e na furna da Pombeira (…)"
D. Camilo José Cela, Madeira de Buxo.

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