quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Esse Cavalheiro, mesmo

Manuel Alegre teve todo o direito a candidatar-se à Presidência da República, e foi tão ou menos culpado que Soares ou Sócrates na trapalhada da escolha presidencial socialista. Não questiono o programa ou a coerência do programa que o sustentava, ou teria que olhar para as candidaturas de bandeirinha de Louçã (e se fosse Louçã a ter 20%? que «sintoma» teríamos?) ou Jerónimo, porventura mais aceites, mas fundadas na repetição da repetição de todas as eleições passadas ou futuras. Não defendo que a votação em Manuel Alegre deveu-se à sua candidatura «independente», «fora dos partidos» e congregadora de milhares de cidadãos. Não percebo nas acções de campanha de Alegre, ou nos debates, episódios menos dignos que os levados a efeito por Soares ou Louçã, mas identifico-lhe sem margem para dúvida um discurso mais saudável e pujante. A partir do momento em que um discurso é saudável e mobilizador do acto democrático perde oportunidade de lhe chamar-mos vazio.

Aceito que entre Soares e Cavaco, Alegre seria mais simpático para muitos eleitores que não se vergaram à ideia esgotada de Soares ou ao optimismo acólito de Cavaco. O voto em Alegre pode ser um voto de protesto e o resultado não é preocupante para o país nem sei como possa significar algum tipo de perigo para a democracia, Alegre não é «o primeiro que aparece» é genericamente conhecido por todos os portugueses. Preocupante para o país é a tristeza, a falta de imaginação e de ambição, a vida toda contada. Não é o voto num candidato livre. Alegre é um problema do PS, não do país. E eu votei Cavaco. Mas chateia-me o aceno constante do «perigo para a democracia». Fala estafada. Apelo ao medo. Desvalorização do português que é limitado, mas não exageremos.

(Sob outro ponto de vista Alegre é marialva, preguiçoso e, digo eu, casado com uma mulher bonita, isto tudo, já se sabe, porque Alegre não é «director espiritual de ninguém».

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