Cheirava
bem, a comida quente. Entrei no quarto e ordenei os objectos em cima
da mesa. Separei o isqueiro sem gás que tinha guardado no bolso no
ultimo sábado à noite, a caneta I Love Capri e uma palhinha usada
para beber água de coco. Guardei os objectos na gaveta. Fui à
varanda. Os sinais sonoros para os cegos já estavam desligados.
Voltei a entrar. O meu avô já tinha jantado e continuava sentado no
sofá com o olhar incerto. Preparei um prato e sentei-me ao lado
dele. Estava com fome mas gosto de comer devagar. Para me obrigar a
não perder o rito, coloquei o prato no colo. Evitar virar o prato
obrigava-me a comer devagar. Vou-me deitar, amanhã tenho outra vez
que me levantar cedo para tirar toda a merda que tenho no sangue, que
tal o dia, safas-te com o francês ou quê? Vou-me safando, de
qualquer maneira tento falar o mínimo possível seja em que idioma
for; o imprescindível e calo-me em seguida. Só conheci o
imprescindível e isso só originou equivocos à minha volta,
explicar um pouco não custa nada. Não te preocupes, no sábado
estive à conversa uma série de horas e não me custou; deu-me
prazer; às vezes apetece-me falar outras nem por isso. É melhor que
dês uma vista de olhos nessa carta, até amanhã. Descansa, até
amanhã.
Abri o
envelope. A carta mencionava um qualquer quilómetro da auto-estrada
com uma série de dados factuais preparados para não deixar qualquer
margem de dúvida em relação a uma espécie de falta contra a
segurança rodoviária. Apontei os dados de pagamento e depois
rasguei as três folhas em duas partes iguais, depois em quatro e
depois em oito. Deixas-as em cima da mesa ao lado do envelope e do
prato sujo de macarrão com tomate.
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