sábado, 5 de novembro de 2011

Experiência universal

Soube desde sempre que só escreveria bem quando fosse velho, quando estivesse perto do fim e visse todos os anos anteriores com distanciamento, como alguém que no alto de um miradouro ou do cimo um edifício consegue uma ideia bem mais aproximada da geometria, do relevo e da hipsometria de dada cidade. A minha experiência é a experiência universal e não procurei outra. Alguns brilhos, algumas zonas escuras, altibaixos, acidentes de percurso sem importância. Não tive paisagem. Não tive lugar fixo.

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O problema da escrita, penso, é que não pode existir mediania ou suficiência. Que espécie de escritor se pode ser é um caminho bem mais fácil de seguir que saber que espécie de pessoa se é, uma busca bastante mais demorada, abrangente e equívoca.

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A última loja onde me detive expunha na montra vários comboios de brinquedo, com linhas férreas que se construíam em entrelaçados de vias, composições que por muito tempo que avançassem não deixariam de progredir em círculos até as pilhas da locomotiva fraquejarem. As carruagens tinham palavras alemãs escritas e isso recordou-me o quanto a Alemanha é um país mais civilizado que outros, ainda que existam cada vez menos crianças, alemãs ou de qualquer outra nacionalidade, que imaginem ser maquinistas.

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