Soltava as cascas de laranja no canteiro. Apodreceriam e serviriam para fertilizar a terra. Na noite anterior, chegaram as duas muito bêbadas. Deitei-me cedo e adormeci instantaneamente. Estava mesmo a precisar de descansar. Elas chegaram e eu, com um olho mais enterrado na almofada que o outro, sonhava. Ainda estavam preocupadas em não fazer ruído e não despertei. O máximo que fiz foi incluí-las no meu sonho, que fosse qual fosse, de repente se tornou mais feliz. Risos e vozes femininas.
Estariam sentadas na mesa perto da janela. Provavelmente as duas frente a frente e tocando-se os braços e os joelhos quando queriam enfatizar o que diziam uma à outra. Eu não demorei muito a acordar porque elas rapidamente perderam a noção do barulho que faziam. Uma delas foi buscar um pacote de batatas fritas e começou a mastigar com aquele som que todos sabemos das batatas fritas de pacote. Num ápice sussurravam e num ápice tornavam a entusiasmar-se e soltar gargalhadas, com ruídos impróprios que a respiração atrapalhada produzia. E eu imperturbável no quarto ao lado, fingindo dormir. Sobretudo porque não queria sucumbir à tentação do gesto ridículo: passar várias vezes a mão pelo cabelo antes de abrir a porta do quarto. E elas loucas, bêbadas, jovens, lúbricas, com joelhos redondos, estúpidas, à rasca, como todos nós, com a boca salgada das batatas fritas; e sedentas.
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