terça-feira, 4 de maio de 2010

Sillitoe



Alan Sillitoe foi um percursor do «ainda não desisto». Nada do que fez conseguiu suplantar os primeiros dois trabalhos Saturday Night and Sunday Morning/The Loneliness of the Long Distance Runner, os quais, costumam dizer os detractores, são demasiado autobiográficos. Como se fazer da biografia desgraçada uma forma de arte fosse batota. Se fosse o Stendhal já seria um «poeta» da própria vida. Outra coisa que me chamou a atenção foi a universalidade da explicação das coisas. Um mau escritor vai dizer que escreve para o grande público, quer dizer para entreter e para os simples, mas não chegará àqueles que fazem constantes cálculos de geometria para perceberem se estão bem situados, quer dizer, bem posicionados. Um bom escritor vai escrever para si e tomar quatro ou cinco referências (consensuais) que sintetizem o ar do tempo. Sillitoe conseguiu desatar os dois entendimentos. Ele conseguia ver. Mas conseguia ver que cresceu numa casa com capas sobre capas de papel de parede desfeito. Muito por onde descrever. Foi associado ao auto intitulado Angry Young Men of British e apenas não pode entrar no meu querido grupo do estudo incessante do pior porque não afugentou uns quantos delírios de justiça social, talvez numa época de morrinha. De resto até os insuficientes dos Artic Monckey’s pegaram em Sillitoe através de um título cuja promessa formulada a grafitadas de rebeldia está ao alcance de quem pode e não de quem quer: Whatever You Say I Am That's What I'm Not.
Sillitoe deve ser lido à luz das suas primeiras sensações enquanto indivíduo impressionável, de qualquer maneira, e como conclusão, reafirmo o que julgo já ter dito alguma vez: minha será aquela que, por andar descalça em casa, tenha as plantas dos pés relativamente sujas. É tudo.

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