quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O paradoxo como gozo

"G. sale muy excitado y embriagado de una representación (...), la cual describe en los seguintes términos: es algo enteramente barroco, delirante, kitsch, romántico, etc. Para luego añadir: está completamente pasado de moda. Para ciertas organizaciones, la paradoja es, pues, un éxtasis, una pérdida, muy intensos."

Roland Barthes, Roland Barthes por Roland Barthes. Paidós Contextos, 2004.

O paradoxo não é aquilo que responde ao desejo. O que responde ao desejo nós já sabemos o que é: aquilo que permite a sua satisfação imediata. O paradoxo é o que surpreende (sem esforço), o que desorienta (através de muitos estímulos ao mesmo tempo), é o que excede e provoca deriva.

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Anaïs Nin no diário de 1932 diz que «se não tivesse sentimentos seria a mulher mais inteligente do mundo», ou seja, começa a discorrer sobre June. Henry Miller, diz Anaïs Nin, esforçava-se por ser um génio («como Dostoievski»). Miller existe fora de Anaïs Nin. Mas June, o terceiro vértice do triângulo, não vê o génio de Miller se não como uma homenagem a si própria. Miller já não aguenta June e esta, em defesa própria, discorre durante duas horas. Anaïs Nin escreve: "Esta noche, mi mente se extiende en lo alto, por encima del cielo, y no soy un ser humano. Soy una serpiente que revela en su silbo la fatuidad e la vacuidad de June, diosa y ramera."«Ramera» porque June quer acorrentar o génio de Miller. Deusa e puta, um paradoxo e um desencontro muito intenso.

Anaïs Nin, Incesto: Diario Amoroso (1932-1934). Siruela, 1998.

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