terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cedo Nulli

Nestas semanas de lados contrários em que a fala é toda ansiedade de «vitória» lembro-me de Erasmus. Ele não tinha «um lado». Destacava-se o seu tom jocoso perante as facções, a recusa da autoridade. Hoje em dia, a verdadeira rebeldia, a rebeldia que rompe qualquer relação, está apartada da esquerda ou da direita; posto que qualquer tipo de respeito ou pertença não é mais que maquinação, empenho em que caia «qualquer coisinha do céu». Ainda assim, a primeira recusa é a do silêncio. Uma recusa pessoal. A democracia deve ser participada e discutida. A segunda recusa, mais «altruísta», acredita que uma «maioria absoluta» não é desejável, e a negociação, a «rédea curta», seja qual for o lado, será sempre o desfecho mais benigno. O terceiro acto rebelde entra em confronto directo com a Opinião. As consciências que se julgam mais avisadas votam, abdicando de qualquer outra prioridade ou maior conhecimento, com base num princípio «progressista» que atenta sobretudo nas chamadas «causas fracturantes». Mas este princípio, pelo qual se aconselha votar PS, embora dotado das melhores intenções, corresponde a um poder concreto. E este poder faz do princípio um «rasgo» insulado e pouco genuíno, e mais bem mesquinho num poder medíocre e cata-vento que não tem uma linguagem e sim um conjunto de expressões habituais. Esse princípio que é vivido de forma cabal na minha vida pessoal, que tem o prazer de não ser meramente declarativo, não o posso conceder a um grupo de pessoas em quem não me revejo (só permanece o reflexo do embuste), um princípio que se funda naquilo que é o entendimento sobre a liberdade, e que por isso mesmo não existe a necessidade de chamar ao discurso nem os «direitos», nem o respeito (uma espécie de derradeiro reduto da convivência onde tentarei nunca chegar) nem a tolerância (que, incrivelmente, passou a ser vista como «característica psicológica»). Um princípio que não é através de imagens retocadas, passadas como se fossem testemunhos desesperados para safar alguém da condenação, que se consegue consolidar. Finalmente, aparece o quarto acto de rebeldia. No momento presente é impossível fazer qualquer tipo de cedência. Ainda que o PSD, através da sua líder, constitua um módico de seriedade, esse facto não esconde as inúmeras incompatibilidades que emergem depois de descontada a contabilidade. Ou seja: como se diria em homenagem a Erasmus: Cedo Nulli. Não cedo a nada e o meu voto é em branco.

1 comentário:

  1. Fico contente por não ceder à preguiça. Não deixa de ser, afinal, um dever cívico. É um direito envenenado :)

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