domingo, 16 de agosto de 2009

Um tédio magnífico

Dá-me um certo gozo ser contemporâneo da vocalista dos Litle Dragon. Noto uma certa vacuidade, indirectamente assumida, nas pessoas da minha geração. Não no sentido cultural, porque têm muitas referências, demasiadas, que manejam de um modo reflexo. Noto um certo «extravio sem fim». A fartura de estímulos é mesmo o demónio. É por isso que me é estranha, e recuso, qualquer fantasia que se prenda com «avançar». O discurso político dominante, o «PS» é «a» ideologia, é perfeitamente vazio. Pode-se ser contemporâneo da mitologia, como na pré-história, da filosofia, da moral cristã ou freudiana, mas não se pode ser contemporâneo de uma intenção, em princípio conveniente, de «avançar». Não se pode «avançar» sempre com as mesmas frases imóveis. Não se pode ser contemporâneo de uma ideia de «modernidade» que é meramente declarativa (porque não pode ser entendida de outra forma). Pede-se uma «maioria absoluta» para determinado grupo de pessoas, e isso parecendo «normal e necessário» é outro absurdo perfeito. É unicamente da ordem do contrato, nada mais. Somos contemporâneos, isso sim, de um conjunto de pessoas que se apressam a servir uma teoria que, no melhor dos casos, foi bem estudada, através da imitação, que é rapidamente esquecida quando surge novo objecto a imitar, e tem algumas origens remotas na psicologia dos bons sentimentos: «ama-me, conserva-me, defende-me». Uma teoria que faz da imagem o único verbo. Uma linguagem que, para além de alguma simetria, não tem outro significado. Gostava que a minha geração fosse contemporânea exclusivamente do seu próprio imaginário, subjectivo, e isso, como dizia Barthes, pode significar uma vida que acompanha os seus próprios «reflexos dançantes». O presente tomado como sensação. Escrever, por exemplo, não para descobrir a verdade através da «analogia», mas escrever para saber. Esta devia ser uma geração bastante mais corpórea, porque já conseguiu alguma coisa ao nível do auto-retrato intelectual.

A excitação depois de satisfeita dá origem a um enorme e silencioso bocejo quando confrontada com os pequenos repentes que aparecem por aí. Somos contemporâneos de quê? Quem sabe seduzir não se deixa atrair tão facilmente: é preciso votar, mas não no PS.

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