terça-feira, 28 de julho de 2009

Uma vida completa

Sou como a personagem principal de Quaresma, filme realizado pelo precocemente desaparecido José Álvaro Morais. A natureza é essencial. E tem tanta força que, sozinho perante ela, posso enlouquecer por não aguentar a emoção. Como acontecia com a personagem interpretada pela magnífica Beatriz Batarda. Já se sabe que tudo aquilo que é potente tem essa capacidade, a de enlouquecer. Já se sabe que a natureza é essencial ao homem que ambiciona, primeiro que tudo, «uma vida completa», como recomendava Tolstói numa entrada do seu Diário de 23 de Março de 1894. A natureza é ambivalente porque ao ser fundamental também pode enlouquecer. Estar sozinho enlouquece porque mete medo. Ouvem-se os pensamentos próprios; ou não se ouve nada, o que pode ainda meter mais medo. É também por isso que as «paisagens humanizadas» são bastante mais frequentadas, é mais fácil ocultar-se. As árvores não se deixam enganar, para usar uma fórmula poética. No meio da natureza a presença impõe-se, não se é mais um. Mas é isso que há que aceitar, como vacina, ser uma pessoa sujeita à loucura. É da natureza humana.

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