sábado, 11 de julho de 2009

Os porreiros

O novo programa de Pacheco Pereira, como era de esperar e conhecendo «o meio», irritou muita gente. Os insultos e as tentativas de ridicularização só revelam a ignorância de quem quer ganhar pontos na incansável tarefa de hacer la pelota. A Marmeleira, as referências à idade, a acusação de «narcisismo» e de «personalidade» de quem provavelmente dela abdicou para se mostrar melhor intérprete dos tempos «avançados» em que vive. Claro, com Pacheco não vão a lado nenhum. Há sempre muita gente à espera que caia qualquer coisinha do céu. Para mim, ainda antes dessa passagem da utopia à fantasia que foi o BE, Pacheco Pereira foi o primeiro político «sem gravata». Começei por encará-lo como um «rebelde», um pensador independente e alguém que olhava o país (e o PSD) através de uma reflexão própria. Um homem com vontade de debate inteligente. Essas características, no meio viciado e estupidamente optimisma que Sócrates impinge, sobressaem. Admiro Pacheco para além da mera superficialidade que é concordar ou discordar. A experiência ensinou-me a levar em consideração os homens isolados, com uma voz que não se justifica apenas por fazer parte de um grupo ou apenas isso cobiçar. Pacheco é um historiador incansável. Proprietário de uma coleção notável de documentos sobre os últimos cinquenta anos e de uma biblioteca imensa que disponibiliza para consulta. Da última vez que estive em Portugal, numa entrevista, li que Pacheco por vezes dormia literalmente entre livros. Não se trata de entronizar ninguém. Com tantos merdas disponíveis e com tanta mediocridade, trata-se de não ter vontade nenhuma de ridicularizar Pacheco. Ainda que isso me possa fazer – também a mim – menos simpático.

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