quinta-feira, 18 de junho de 2009

Uma desolação

Seis anos. Encontramo-nos e ainda esperas que seja eu a tomar a iniciativa. Fico com a sensação que passaram umas horas. Gostas da minha companhia, mas nunca o dizes. Sentes que não interessas, que não acrescentas nada a ninguém. Fazes-me as perguntas que – julgas – podem dar-te as respostas que queres ouvir. Segues-me com o «arrojo» depositado no cão-guia. Dou-te atenção por piedade. Que dizer, fazes-me impressão. Tento perceber até onde pode ir o teu controlo, o teu medo disfarçado de cálculo. A tua censura mascarada de inteligência. O corpo consome-se como uma ruína deixada ao abandono; sentes na pele o que quer dizer recalcada.
Funcionavas a soldo das certezas absolutas. Os teus pais eram extraordinariamente forretas e conservadores. O minifúndio incrementa o sentimento de posse. Os cavalos do Gerês podiam safar-te. Ou muda-te para o Alentejo. Ainda não é tarde para seres alentejana. Já deves ter tido a tua «experiência», espero. Querias que me ajoelhasse só pelos teus olhos. Querias, mas não tiravas a armadura. Eu mantinha-me junto a ti, cada vez mais perto, mas era impossível alambazar-me. Passaria fome. Querias o meu abraço, a minha boca, desejavas a oportunidade de dizer muitas vezes «não» enquanto relaxavas o corpo. Que espécie de impostora. Querias sentir o conflito enquanto lubrificavas a cona. Interiorizavas o «dever» como se fosse teu desde pequenina, e desaparecias, parte do teatro, para me fazer acreditar na tua personalidade, aliás, escondida desde o primeiro diálogo.
Admito: julguei que podias ser diferente. Não apenas mais uma para fazer perder. Mas não merecias tanto. Acabaste por provar a punição das tuas próprias crenças «inabaláveis». Precisaste anos para avançar uma vírgula, no entanto, julgavas que me manipulavas conforme os teus «insondáveis tempos» que não eram mais que um retorno, não sei bem a que vazio.
A oportunidade não dura sempre e a beleza restante já não deixa margem para brincar às deusas. Tens umas olheiras feias; humanas, vês?

3 comentários:

  1. tanta merda só para perguntar à chavala se ainda quer foder.

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  2. Delicioso e terrivelmente cru, como só o amor pode ser.

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