quinta-feira, 18 de junho de 2009

Tão bem que eu estive na praia

O blogger Galante quando pula a cerca do «normal e necessário» só diz chorradas. Para chatear um escriba do 5 Dias, diz que Kiarostami «fez-se cineasta abdicando de qualquer intervenção cívica». Uma coisa é o rapaz Galante gostar do activismo, da petição e dos movimentos (não me refiro aos movimentos de anca). Outra coisa é a arte. E o avanço artístico não tem que andar, precisamente, «de mãos dadas» com os «bons sentimentos». Não se trata de colocar a «arte acima de tudo». Trata-se de diferenciar entre «a obra» e o tratamento moralista de dados biográficos que têm um contexto particular, muito afastado do nosso. Como dizia Salinger: «ao escritor há que lê-lo, mas mais vale não conhecê-lo». Não me interessa o homem, tal como não me interessa muito a portada da Hola! (e às vezes até interessa porque costumo diferenciar e relativizar a importância de cada «fenómeno».) Qual é o valor de chamar «traidor e cobarde» a um cineasta verdadeiramente singular? Para além de que um dos últimos filmes do realizador, e esteve em exibição em Portugal, encaixa perfeitamente nesse empenho com a intervenção social: Ten, de 2002, baseia-se num dia de trabalho de uma mulher taxista que percorre as ruas de Teerão. Enquanto vai transportando as clientes os diálogos sucedem-se. O fio condutor, nunca melhor dito, é uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade iraniana. Coincidência ou não foi um dos filmes do autor que menos gostei. Mas lá está, tive a possibilidade de sair da sala a sentir-me moralmente mais «desperto» para com as agruras da vida num país islâmico.

Dou o benefício da dúvida: o post é tão insípido que coloco a possibilidade de o intuito ser, no fundo, fazer apologia à boa cereja da Gardunha. Porque o filme de Kiarostami, que refere esse fruto no título, chama-se «O sabor da cereja» e não «Tempo das cerejas», embora seja a fruta da época...

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