sexta-feira, 15 de maio de 2009

Lista que termina mal

Stefan Zweig e Joseph Roth.

Joseph Roth, Primo Levi, Robert Walser, Stefan Zweig, Italo Svevo, Cesare Pavese, Francisco Casavellas e Knut Hamsun. Com todos passo grandes bocados e cada um, à sua maneira, me fode o esquema. O que têm em comum? Acabaram mal. Tiveram todos mau fim. Por ordem de importância. Francisco Casavellas começava a tornar-se uma voz diferenciada no panorama literário espanhol. Vejo-o na casa de Barcelona, numa rua pouco movimentada, fechado há três dias. Sentado numa mesa perto da janela e a levantar-se de golpe sempre que não aguentava o tumulto das ideias que o assaltavam. A mãe vai-lhe trazendo tostas que deixa numa ponta da mesa (vivia com a mãe). Casavellas não escrevia por escrever. Morreu recentemente de ataque cardíaco. Italo Svevo morreu da forma mais estúpida: foi atropelado quando cruzava uma rua. Não sei o que poderei acrescentar a tamanha falta de sorte, a não ser, desejar que tenha sido um acto falhado levado ao extremo da desordem motora. Primo Levi sobreviveu aos campos de concentração mas acabou, aparentemente, por se suicidar anos mais tarde. Prefiro que Pavese não se tenha «suicidado» – matou-se e não se fala mais no assunto. Na sua Turim de sempre. Não tinha cumprido sequer cinquenta anos e já estava farto. Se o problema de Pavese podia ser ele próprio já no caso de Stefan Zweig eram os outros. Não resistiu à ascensão do nazismo que acreditava poder estender-se de forma generalizada a toda a Europa. Ele e a mulher viajaram para o Brasil e foi lá que acabaram com a vida. Zweig deixa a pior nota biográfica no meio deste rol de génios malfadados: arrastou consigo a mulher. O afundamento deve ser estritamente individual. Para Joseph Roth reservo uma simpatia especial. Morreu, segundo se sabe, consumido pelo álcool, quando provavelmente já nem a escrita o safava. Knut Hamsun é a personificação da tentativa e erro. As manifestas simpatias com a ideologia nazi valeram-lhe muitos juízos e a espoliação dos bens. Morreu surdo, quase cego, pobre e sozinho. Com Robert Walser chego ao fim desta enumeração da vida desistente. Walser provou em cada frase a vaidade de toda a espécie de domínio. Foi só atacado por um leve mal-estar e por isso foi o escritor mais delicado que jamais existiu. O génio que influenciou Kafka e Musil; o escritor que não procurava nada e que vivia numa permanente ilusão melancólica. Talvez o mais sortudo desta lista negra. Deu o último passeio nas imediações do sanatório de Herisau, onde se havia encerrado, num dia de natal. Foi encontrado estendido na neve. Como num delírio projectado por ele próprio.

4 comentários:

  1. Total. Obviamente é com u de uivar. Obrigado pelo reparo, já emendei. O JR seria um bom compincha. Li Job e Hotel Savoy. E realmente o Zweig não tinha o direito..

    ResponderEliminar
  2. E já agora, outro autor interessante para figurar nesta lista seria o Paul Celan. Um escritor muito interessante, tanto na sua escrita como no fim mórbido que o esperava: um sobrevivente dos campos de concentração nazis (Celan era judeu) acaba por se suicidar aos 50 anos, atirando-se ao rio Sena.

    ResponderEliminar
  3. Esta só poderá ser uma lista inacabada e toda a contribuição é bem-vinda. Celan, de que não me hei-de esquecer, parece-me ter dado uma boa contribuição… A lista também pode ser o resultado de ter muitos judeus na biblioteca.

    ResponderEliminar
  4. Sendo assim, a minha contribuição é com "Receitas da Avó MariA. Também se acaba muito mal...:D

    ResponderEliminar