Se o filho de Mendel Singer fosse só aleijadinho, tudo bem, as pessoas paravam na rua, lamentavam, davam uma palavra de conforto à mãe e seguiam caminho a abanar a cabeça e a apertar os lábios. Las bendiciones del cielo até faziam mais depressa efeito. Mas ao filho de Singer também lhe davam ataques, ataques epilépticos, sem aviso. Começava a estrebuchar. O corpo a agitar-se, como um sismo que não se sabe quantos segundos vai tardar. Impunha respeito. Não havia como controlá-lo. Acontecia em qualquer lugar e às vezes até parecia sacrilégio. À cautela, o puto era deixado vários dias fechado em casa. O miúdo tinha o diabo metido no corpo, diziam sem complacência. Mendel Singer tinha muita vergonha daquela amostra de diabinho – e julgava que deus o havia castigado. Ele lá teria as suas razões. Não me interessa olhar para trás.
Sem comentários:
Enviar um comentário