terça-feira, 12 de maio de 2009

Fela Kuti

Enquanto conversas bebes a mistura de bourbon que o dono do bar te sugeriu. Sentes-te bem. «Leve». Como se estivesses a ler um livro do Stefan Zweig, alegre por estares em sintonia com o narrador. Depois levantas-te da mesa e não te aguentas de pé. Sentas-te de novo e levas as mãos aos bolsos. Acabou o dinheiro. Pela primeira vez estás a ouvir Fela Kuti. Devem estar a tocar os álbuns um por um. Não consegues ouvir nada porque os espanhóis falam muito alto. Mandas-te aos arames, mas a ambiência disfarça. Lembras-te do Primo Levi, porque os arames te recordam as vedações farpadas. Não era caso para tanto. Basta levantares-te e pedires «perdón» às meninas que estão perto da porta, a beber e a conversar – com grande alarido. Sais do bar. Está a chover. Lembras-te das palavras de Murphy; da loucura consentida de um Samuel maior: «estou mesmo a ver, só no final da vida é que o céu vai estar limpo.»

1 comentário:

  1. Tantas vezes sinto isso, que só mesmo no fim da vida é que o céu vai estar limpo :)

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