domingo, 26 de abril de 2009

Liberdade

Continuo com Pavese. Fui a Turim por causa de Pavese. Fazia sempre referências à cidade e eu fui influenciável. Não trouxe grandes impressões. Mas não vou, só por isso, começar a dizer mal de Turim. Queria pisar. Às vezes é tudo. O que quero dizer é outra coisa. Faz de conta que Pavese se burlava dos «intelectuais» dissidentes do PC que clamavam por liberdade. Pavese interrogava-se sobre o que pretendiam fazer com a liberdade que defendiam. Ele próprio deu a resposta anos mais tarde. Matou-se sem que fosse considerado um «auto-assassinato» e não existisse qualquer registo. Um suicídio é um acto pessoal, comunicativo ainda que sem hipótese de réplica, e não pode dar azo a ser confundido com um atropelo com perda imediata ou uma corrente de ar pneumónica. Mofar de quem toma a liberdade acima de todas as coisas pode revelar desde logo uma ausência de capacidade para imaginar coisas giras. Que só podem ser feitas em liberdade. Há quem não mereça o sangue vertido na revolução (não foi nenhum, mas fica melhor assim.) Vão de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Não conferem a perspectiva de onde ouvem. Estão a «regime». Querem alguma paz. Nunca se pensaram em suicidar. Não se dão conta.

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