terça-feira, 3 de março de 2009

Sempre vivi no centro de Lisboa e quando me deslocava à Beira Baixa nunca me furtei à identificação com o «rural». Pela menor densidade populacional, pela paz, pela paisagem, pela lareira que convidava à leitura, pela agricultura, pela liberdade. A disseminação da estupidez não depende do lugar geográfico e a cidade tem sobretudo um valor «logístico». Admirava-me quando se considerava «qualidade de vida» viver num prédio de dez andares, sobretudo se o apartamento fosse o último. O prédio da foto impunha-se na vista do sopé da Serra da Estrela e contrastava com a restante paisagem da cidade da Covilhã. Já nem me lembrava dessa amostra de deslumbramento com as grandes cidades, o provincianismo no seu esplendor como identificava bem Fernando Pessoa. Os anos passam, eu nunca mais fui à Covilhã, nunca mais subi a Serra de bicicleta, mas a torre de Santo António, parte inicial de um projecto mais «ambicioso» do qual faziam parte outras duas torres «um pouco mais pequenas», continua a desfear a paisagem.
É a prova de que o «cosmopolitismo» de Espinho tem-se de pé, mas ligeiramente inclinado. A sua origem está na Torre de Santo António. A origem nunca é motivo de vergonha mas é perigoso tentar mascará-la com os fatos impecáveis que se vestem todos os dias. Podes cortar com o passado, mas o passado etc, etc, etc.

[Via 5dias.]

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