terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cultura caviar

Partilho a conclusão da Rita quando diz que a apresentação simplista dos grupos está além da adolescência. Um pouco mais diluída mas em essência muito parecida. E com diferenças para pior. Posteriormente ainda é mais difícil descortinar o que aconteceu primeiro: se o objecto por si só ou se foi a vontade de «ser identificado com» o que ditou o «gosto». Há uns anos gostar de Sigúr Rós era lapidar (até comecei por simpatizar) e quem emitisse parecer contrário era quase banido, devia querer dizer que a pessoa não se «deixava tocar» ou que era uma «pedra». O exemplo do "Branca de Neve" também é bom. Dizer que o filme é «extraordinário» é uma alusão banal que só mostra a inexistência de ligação entre o filme e o espectador que a proferiu. O que me chamou a atenção foram os textos plenos de ironia e a própria forma de encenação da leitura. Tanto que procurei livros de Robert Walser e hoje é um dos meus escritores preferidos.

Os gostos mentirosos não deixam rasto e ficam inscritos no vazio, isto é, não deixam marca na vida das pessoas. São um mero emblema para ser contrastado com o lixo (e que é bastante) e tomado como superior, em vez de natural ou frequente. O exemplo do "Aquele Querido mês de Agosto" é, de novo, precioso. Obviamente a «cultura caviar» está-se borrifando para o filme enquanto documento ou mesmo para acudir dois minutos à esfera do Portugal (não só) interior e é apenas atacada da horrível levitação da condescendência que se sintetiza na gracinha que agora acha à música pimba. A mesma condescendência com que trata os 300 filmes de realizadores portugueses sobre minorias e imigração. As ideias do que se deve ou não gostar para não ser «confundido» (espécie de moral) acrescentam à pequenez do «meio» a pouca autenticidade. As preferências culturais estabelecem-se, preferencialmente, de modo pessoal e não geralmente por «contágio». Pode não ser perda de tempo ter imaginação ou só curiosidade por algo que não corresponda imediatamente ao «lado certo», isto é, à opção mais consensual ou prescrita por alguma sumidade.

Por outro lado, estes tipos de considerações atingem quem tem dificuldade em enquadrar-se em absoluto numa ou outra amostra de sensibilidade (como eu) procurando uma dialéctica entre as várias, uma visão mais ampla, e questionam os estranhos consensos que se geram ou a formação de «cultos» em favor de um estilo único.

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