sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Saramago

A divisão entre a obra de um escritor e aquilo que pensa ou faz parece servir de base para desculpar muitos escritores menos Saramago. Embora os livros mais recentes do prémio Nobel sejam fracos (A Caverna, As Intermitências, entre os que tentei) isso não significa «esquecer» o prazer que foi o Evangelho (melhor livro de Saramago segundo a NYRB), A Jangada de Pedra, O Ensaio sobre a Cegueira ou O Ano da Morte de Ricardo Reis e deixar-me ir na onda que desconsidera o escritor e o aprisiona na ideologia. Se é verdade que não acrescentou muito (a não ser desenvolver-me uma utopia sobre a Grande Ibéria) li os livros citados no tempo da escola, isto é, quando a curiosidade era mais voraz, e marcaram-me sobretudo pela imaginação e estilo impessoal utilizados. Acho estranho que alguém antes da idade de votar se encontrasse tão politizado que essa condição se sobrepusesse à de leitor. Conhecer alguma coisa de Saramago é uma vantagem chegada a hora de decidir sobre julgar o escritor de livros através das intervenções públicas que faz (que parece ser moda) ou situá-lo na esfera dos excelentes contadores de histórias (sem ironia). E ler Saramago não dificulta (até facilita) continuar o percurso literário por outros autores radicalmente distintos.

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