sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A luz florescente que empalidece o azulejo

Num texto recente a Fernanda Câncio nota a passagem directa da tasca ao gourmet sem escolha intermédia que não seja os vulgares e duvidosos cafés e pastelarias. Não me incomoda que a visão da cidade passe também por cafés sem graça (não fantasio sobre a cidade). Não encontrar uma boa sandes de queijo composta por pão de Penha Garcia e queijo de Alcains na Baixa pode convidar à tarefa de degustação nas zonas nativas e isso para além de (ainda) ser um prazer também é um valor acrescentado para regiões. A desgraça não está na impossibilidade de ter produtos regionais de qualidade entre o metro e o escritório (e por conseguinte mais caros). A desgraça é a extinção dos sabores antigos, o desinteresse pela «terra», o abandono da agricultura, a vergonha pela enxada dos avós, a desvalorização do património próprio e a noção que aquilo que é diferente pode ser positivo para o turismo (já que parece o único contraponto ao abandono e à desertificação). O aproveitamento de bens delapidados como a gastronomia, o património ou a natureza. E a recusa da centro-comercialização, exemplo que os autarcas do «campo» também copiam. O que não podemos é guiarmo-nos pelo trauma que foi todos os dias pela manhã estar expostos à luz florescente que empalidece o azulejo.

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