terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lisboa não se acaba nunca

Vivi desde que nasci e até aos 20 e poucos anos na zona ribeirinha de Alfama. De frente para o rio tive também como paisagem, na janela do quinto andar, os contentores da Maersk, Seomac Sotam, Sealand, Hapag-Lloyd, Evergreen, Uniglory, “K” Line, para além dos navios que os traziam, bastantes mais aliás, do que nos últimos anos. Habituei-me a ver Lisboa como uma cidade a quem o protegido estuário do Tejo concedia uma grande vocação portuária. Habituei-me aos comboios de mercadorias que cruzavam a Infante D. Henrique e que ainda cruzam em Alcântara. No Cais da Pedra existe um velho quiosque, perto das gruas, onde os camionistas e os estivadores ainda devem comer sandes de omeleta de chouriço nos intervalos do trabalho, que não há necessidade de esconder. Aqui na Coruña existe uma vastíssima área portuária que faz com que o porto (entre pescas, lota, transitários e cruzeiros) seja um dos maiores empregadores da cidade e um dos portos mais importantes de Espanha. Não falo de Vigo por ser um mau exemplo de relação entre a cidade e o porto (embora enquanto gerar emprego ninguém se preocupe muito). Por isso penso que os verdadeiros lisboetas sabem onde fica o rio com ou sem ampliação do terminal de Alcântara (que desconheço em que sentido aumenta) e que de qualquer maneira a frente de rio em Lisboa melhorou muitíssimo nos últimos anos e está longe de perigar as vistas para Almada ou para onde se queira olhar. Acho raro que alguém que se auto intitule «lisboeta» (mesmo que vá e volte todos os dias não sei para onde, claro) não perceba que a condição portuária faça parte da herança alfacinha. Se querem fazer histórias de amor a olhar para o Tejo podem começar por bater na Marinha (bem menos útil naquelas condições) e fazê-la saltar do Terreiro do Paço, ali por baixo do Castelo e da Sé.

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