quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Estudo incessante do pior

Sasha Grey fez 18 anos e entrou no mundo dos filmes pornográficos. Grey não se comovia com o sol filtrado pelas árvores iluminando as clareiras do bosque. Não houve floresta encantada. Numa indústria onde o público não é muito exigente e delira com corpos oleados, plásticos e irreais a californiana ganhou o estatuto de estrela ao ganhar vários prémios decididos pelo «meio». O público aprovou a coragem quase iniciática. E repôs o devido valor na frescura e flexibilidade. Depois da maioridade, onde por vezes a indecisão toma conta do rumo, Sasha pediu por favor que lhe fodessem a boca e rompessem o cu. Não me interpretem mal. Sasha Grey diz-se admiradora de Jean-Luc Godard e Bernardo Bertolucci (supõe-se uma larga influência) e uma actriz «existencialista». Escolheu o pseudónimo Anna Karina (em homenagem) até se ter decidido pelo nome actual que bebe na fonte de Oscar Wilde. A graça e o discurso da actriz (e a pose, a proporção do corpo) parecem-me ofuscar as acusações óbvias (dinheiro, maus encontros) e Steven Soderbergh elegeu-a para um próximo filme onde, ainda assim, não desempenhará um papel muito afastado da sua vocação nos últimos tempos. Se ela for realmente esperta não deixará que a vida se aperte dentro de si mas o arrependimento não me parece desde logo necessário.

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