terça-feira, 19 de agosto de 2008

Voltar à toa

Por falta de internet (o «dispositivo móvel» não conta). Não terá sido por falta de tempo: entre acabar o jantar e sair de casa decorriam duas horas em que ficava só e cheio de saudades enquanto ela se recreava entre o quarto de vestir e a casa de banho. As duas horas podiam ser utilizadas para postar alguma coisa nunca afastada de assuntos como a capacidade pulmonar ser suficiente para mergulhar até duas praias a seguir à nossa, praias só acessíveis por mar, ar, ou suicídio. Ao chegar, todo roto, descansava. Numa praia deserta, para além de estar sozinho, não há nada mais para fazer e voltava pelo mesmo caminho, isto é, mergulhava de volta, pelo meio dos peixes, à tona das pessoas. As rádios nacionais foram desgravadas e trocadas, a saber, pelas regionais Total (boa), Algarve (média), Alvor (má), Sagres (não ouvi), e Fóia (excelente). Desta vez interrompi mesmo as conversas do costume. A própria TV permaneceu devidamente desligada por falta de antena. Só hoje percebi a dimensão da pobreza do Jesualdo Ferreira. A única asneira previamente anunciada foi deslocar-me a um sítio com uma discoteca grande e praguejar um pouco enquanto não encontrava lugar para arrumar o carro. Como sou uma pessoa nova e a favor da vida (isto não significa que seja contra o aborto) gosto de testar a minha paciência até ao limite. Sabia de antemão que com a mesma velocidade regressava à esplanada dos LCD’s a dar os jogos olímpicos e à preparação do Long Island Ice Tea iludida com a mistura de todas as bebidas destiladas por ora conhecidas enquanto as milf’s inglesas conversavam animadamente com rapazes-lagosta que bebiam cerveja até em Pequim ser noite. De resto, é bom poder escolher uma praia frequentada quase unicamente por estrangeiros. Temos a garantia de poder ler um maior número de páginas sem ser atormentado em demasia. O último texto de Walser foi mesmo lido quase sem ar e depois de fechar o livro disfarcei a comoção do momento com um mergulho de chapa. Intitulou-o alguém postumamente: «saudades de um punhal». E eu, que a maré estava a vazar, por pouco não batia com a cabeça numa rocha.

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