sexta-feira, 4 de julho de 2008

Shandys

Consegui superar uma fase estúpida que consistia em adormecer ao fim de uma página de Thomas Bernhard, ler umas frases do adolescente Cohen em Belos Vencidos e ter que substituir as páginas libertinas por pornografia mainstream do tipo «I did your girlfriend», passar várias folhas dos Subterrâneos de Kerouak mas não ler nenhuma, as preocupações tomavam a vez, revia mentalmente as distâncias e tentava perceber se Leiria seria mais perto pela A1 ou pela A8. Há dez anos tive a fantasia de tentar «nunca ler duas vezes o mesmo autor», pois se havia tão pouco tempo de vida para tantos escritores que convinha conhecer. É claro que a fantasia se foi esbatendo e posso dizer mesmo agora que se esvaneceu no dia de hoje. Volto ao mesmo. Furiosamente a Robert Walser, como se me restassem dias de vida, e renovo o prazer na colecção de Histórias de Amor, releio O Animal Moribundo de Roth como derradeira tentativa para encontrar um coração feminino e companhia para a minha obsessão com o fim, pego no livrinho de Vila-Matas, que havia deixado para o futuro, História Abreviada da Literatura Portátil e, surpresa, encontro um clube secreto e «perfeito» constituído por Shandys: «alegres, volúveis e malucos.» A definição é risível e assim que acabe o livro voltarei a falar no assunto com mais precisão. Os fundamentos não podem ser outros: sexualidade (aquela que significar todo o acto orientado para o prazer), e a mobilidade do espírito que no meu caso pode mesmo acumular com nomadismo e se assim for, então...

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