quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Cotovelo

Desde o primeiro dia senti o olhar frio e distante, alguém que disfarça não querer ser aquilo que simplesmente não consegue ser. Para fugir aos eventuais incómodos sociais isolou-se. Quero dizer, falava quando lhe convinha, questões formais ou urgentes. De início ainda havia quem se preocupasse, apercebendo-se de tais atitudes com o tempo passaram a ignorá-la, um "lá vem ela" desinteressado, enfadonho, vários pretextos para não se relacionarem, sorrisos forçados e saudações curtas. Mostrava não se importar, respondia na mesma moeda, o olhar forçava a indiferença. Altiva, via-me com desdenho, demonstrava o que pensava de mim, assim, cruamente. Eu era uma loira burra, que vinha não sei de onde, que ambicionava ser aquilo que nunca poderia vir a ser, que exibia diariamente o que ela deturpava, inteligência e umas calças justas para onde todos olhavam. Escutava, por estar perto, alguns episódios íntimos que a deviam fazer corar. Ela esboçava uma careta de sobranceria. Pois. Final do Curso, chama-me cuidadosamente, quase não a reconheci, fomos ao bar da faculdade as duas. Desatou num choro, que o namorado a tinha trocado por outra rapariga (não achei estranho), pediu conselhos, quis conhecer-me. Afinal ela queria ser como eu. Não duvido que foi o lanche mais pedagógico que alguma vez teve.

MCC

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